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Insight / Opinião

INFLAÇÃO NO BRASIL: CASO LOCAL OU GLOBAL?

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Os índices de inflação no Brasil dispararam em 2021, como consequência de eventos globais. Os remédios já estão sendo administrados para tentar reverter a tendência de alta dos preços em 2022, reduzir as incertezas e permitir a retomada dos investimentos corporativos.

 

O Brasil fechou o ano de 2021 com todos os índices de inflação próximos ou além dos dois dígitos e muito além da meta de inflação de 4,5% ao ano fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), conforme detalhado no quadro a seguir:

 

Figura 2.1

 

Os diferentes índices buscam captar a inflação de diferentes cestas de produtos e serviços, de diferentes perfis de renda da população ou da indústria, entre outros fatores, e todos eles apresentaram altas expressivas em relação aos seus respectivos valores de 2020. Além disso, o que mais preocupa é que os índices de 2021 apresentam uma elevada difusão, acima de 70%, sinalizando a disseminação da alta de preços pela economia. Uma inflação elevada corrói o poder de compra da população menos assistida, dificulta o planejamento corporativo e os investimentos, reduz o nível de emprego, aumenta o custo de capital (reduzindo consequentemente o valor dos ativos reais) e demanda uma combinação de políticas monetárias e fiscais, ou remédios, para arrefecê-la.  Alguns destes remédios, como a elevação da taxa de juros além dos 10%, já estão sendo administrados.

 

AS CAUSAS DA INFLAÇÃO

Mas afinal, o que causou a disparada dos preços no Brasil em 2021? O quadro a seguir detalha a média móvel da inflação anual dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Alemanha e do Brasil em 2021. Observa-se que a inflação anual disparou em todos estes países a partir do segundo semestre de 2020, sendo que no Brasil o aumento foi mais acentuado, pelas características de um país emergente com moeda ainda frágil.

 

Figura 2.2

 

Este aumento generalizado dos preços, liderado pelo aumento das commodities metálicas, dos alimentos e da energia, teve alguns direcionadores mais relevantes. Em primeiro lugar, a ruptura da cadeia global de suprimentos, no início da pandemia (março de 2020). Pode-se compreender o impacto desta ruptura remetendo-se à teoria do fluxo de tráfego ou à teoria das três fases do trânsito. De forma análoga, em uma estrada (via) longa, repleta de veículos, mas sem acidentes, estes se locomovem sem paradas, em uma mesma velocidade média constante. Na eventualidade de um incidente grave, que demande a parada completa dos veículos em um determinado trecho, há uma parada gradual e sequencial destes, até que se alcance o último elemento da fila. A posterior liberação da via, por sua vez, não gera a movimentação instantânea dos veículos, que iniciarão seus movimentos sequencialmente. Quanto maior a fila e mais atrás o veículo, maior o tempo para se retomar seu movimento. Voltando-se a quebra da cadeia de suprimentos, houve um desbalanceamento dos agentes que, ainda que conectados, interromperam suas atividades de forma descoordenada e em momentos distintos, por estarem localizados nas diferentes regiões do planeta, por sua vez impactadas em tempos e intensidades diferentes pela pandemia do coronavírus. Enquanto não houver uma retomada equilibrada e global da economia, a cadeia de suprimentos continuará ameaçada, com paradas e retomadas difusas e impactando o nível de preços.

Um segundo fator que impactou a estabilidade dos preços foi a elevada injeção de recursos na economia pelos governos (no caso do Brasil, foram mais de R$ 500 bilhões em estímulos para amortecer os efeitos da pandemia em 2021), o que manteve temporariamente o poder de compra das famílias, em combinação com a quebra da oferta (quebra da cadeia de suprimentos). O primeiro permitiu a rápida retomada da demanda de produtos e serviços, após a queda abrupta no início da pandemia. O segundo reduziu a oferta justamente quando a demanda foi retomada, desequilibrando a relação oferta-demanda e os preços da economia.

 

A INFLAÇÃO EM 2022

Os governos já se movimentam e tomam ações na tentativa de resgatar o equilíbrio entre oferta e demanda e de desmontar os gatilhos da inflação. A taxa de juros já subiu no Brasil e segue a mesma trajetória nos Estados Unidos e demais países desenvolvidos. A injeção de capital na economia pelos governos, ainda que ocorra em 2022, não será na mesma intensidade. Além disso, o arrefecimento da pandemia, ainda que em velocidade menor do que a esperada, contribui para a retomada da cadeia de suprimentos. Desta forma, projeta-se para 2022, salvo algum evento extraordinário – guerra na Ucrânia, crise política, inconsequência fiscal – a queda gradual da inflação no Brasil e no mundo, o que deverá contribuir para a redução dos juros no médio prazo e uma retomada mais sólida da economia. As autoridades monetárias estão atentas.

 

 

Equipe de Research, MALAGA | AAS Corporate Finance

Email: contato@malaga-aas.com

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